Crítica - Happy-Go-Lucky (2008)


Realizado por Mike Leigh
Com Sally Hawkins, Eddie Marsan e Alexis Zegerman

O realizador britânico Mike Leigh habituou-nos ao longo dos anos a reflectir sobre o lado mais negro da vida e da realidade na qual estamos inseridos. Os seus filmes são dotados de um realismo absoluto e a sua visão nunca pretendeu iludir o espectador. Poderia dizer-se que Mike Leigh é um realista por excelência. Ora então qual não é a nossa surpresa ao testemunharmos uma completa mudança nesta visão negra do realizador quando visionamos "Happy-Go-Lucky". Estamos perante um filme que é uma autêntica ode à vida e à forma como ela poderia ou deveria ser encarada.
Poppy (Hawkins) é uma jovial e entusiasta professora primária que insiste em saborear os lados positivos da vida e se recusa a cair no negrume da realidade. Ela não é afortunada e a sua vida não tem nada de especial, mas ainda assim ela encara tudo e todos com um sorriso constante e uma alegria luminosa. Um dia decide que é tempo de tirar a carta de condução e é aí que se depara com Scott (Marsan), um solitário e encolerizado instrutor de condução que é o perfeito oposto de Poppy. É nestas aulas de condução que Poppy vai colidir com o negrume da realidade, participando em acesas discussões que irão marcar de forma indelével a sua visão perfeita e colorida do mundo.


Sally Hawkins é simplesmente fenomenal neste filme. Ela não interpreta Poppy. Ela é Poppy. A sua inesgotável alegria e boa-disposição contagiam o espectador, à medida que ela preenche a tela transformando-se num furacão de pura felicidade e positivismo. A obra de Leigh apresenta-nos uma batalha de extremos: Poppy é o extremo da felicidade, enquanto Scott o extremo da cólera e do abatimento. Scott é o espectro do indivíduo derrotado pela sociedade cruel, que se vira contra essa sociedade através de um pessimismo e raiva que desgastam qualquer um. Por seu lado, Poppy vive num bairro pobre e infeliz mas ao olhar à sua volta não vê os graffiti nas paredes nem o lixo no chão, mas antes as árvores em flor e os pássaros a cantar. Ela não é propriamente uma criança pois tem noção da feia realidade. Porém, não consegue evitar optar por viver a sua vida com alegria. Neste sentido, "Happy-Go-Lucky" é uma autêntica lição de vida, especialmente nos negros tempos de crise em que vivemos.
A personagem de Poppy é simplesmente fascinante e é essencialmente definida numa brilhante cena com um mendigo algo perdido e atordoado, cena em que Poppy pressente o perigo mas ainda assim não é capaz de abandonar o homem na sua dor solitária e incompreendida. A realização e argumento de Mike Leigh demonstram todo o poder de um génio do cinema. Só não se compreende como a Academia se pôde esquecer de Sally Hawkins na categoria de Melhor Actriz. Até Eddie Marsan merecia uma nomeação como Actor Secundário. Mas nunca se pode agradar a todos e o que realmente importa é que, com prémios ou sem eles, "Happy-Go-Lucky" não deixa de ser um doce de filme.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

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2 Comentários

  1. Concordo contigo. É muito bom filme de um grande realizador.

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  2. Vou ver este filme hoje e tenho uma grande curiosidade principalmente pelo nome do realizador.

    Este filme tem um tema estranho na carreira de Leigh, já que ele faz filnmes realmente sombrios e desencantados.... E este parece ser diferente. Será que se passou!

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