Espaço Portugal - Douro, Faina Fluvial (1931)

Realizado por Manoel de Oliveira
Com população da zona ribeirinha do Porto

Com uma câmera de filmar de 35 mm oferecida pelo pai e depois de assistir a Sinfonia de uma Capital (“Berlin, Symphonie einer Grosstadt”) de Walter Ruthmann, Manoel de Oliveira, fortemente influenciado também pela vanguarda soviética, principalmente pelo trabalho de Vertov, roda com meios muito limitados a segunda sinfonia urbana portuguesa.
A vida das gentes do rio, o ritmo aluciante da faina, imprimem no realizador uma tal impressão que as filma  de forma contemplativa, como um observador apolítico que pasma perante esta manifestação de vida. Quando o filme é apresentado, em setembro de 1931, no V Congresso da Crítica que decorreu em Lisboa, o público não compreendeu e preocupou-se sobretudo com a imagem do país,  que daí podia advir, invocando um perigoso nacionalismo e desprezando toda a compontente artística da obra. Foram dois nomes de grande prestígio internacional, o dramaturgo Pirandello e o crítico jornal Temps, Émile Vuillermoz, quem compreendeu o valor da obra e a promoveu além fronteiras.


A película, que tem apenas 20 minutos, teve ante-estreia em Lisboa, no Cinema Tivoli, acompanhando "Gado Bravo" de António Lopes Ribeiro. A técnica de montagem, usando cola e tesoura, brilha pela capacidade expressiva e alia-se a uma fascinante fotografia do amador António Mendes. Rodado aos fins de semana, Douro, Faina Fluvial levou dois anos a produzir e, como toda a sua peculiaridade, é um marco fundamental na tradição documental portuguesa. Podemos visionar esta obra ímpar na íntegra no youtube. A banda sonora da posterior versão sonora foi composta por Luís de Freitas Branco. Em 1994, surgiu outra versão, intitulada "Douro, Faina Fluvial 2", de 18 minutos, com música de Emanuel Nunes.

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