Crítica - Oslo, 31 August (2011)


Realizado por Joachim Trier
Com Anders Danielsen Lie, Hans Olav Brenner, Kjaersti Odden Skjeldal

Volvidos cinco anos sobre a estreia de "Reprise" (2006), o dinamarquês Joachim Trier regressa ao grande ecrã, revisitando a temática de um desânimo colectivo e mantendo a aposta em Anders Lie enquanto actor principal. Ainda à semelhança de "Reprise", Trier volta a perfilhar o argumento, derivação feliz de "Le feu follet", obra premonitória do colaboracionista Pierre Drieu La Rochelle e inicialmente adaptada ao cinema por Louis Malle, em 1963.


A opção de Joachim Trier em recorrer a um conto suicida de 1931 foi oportuna, conectando a depressão económica dos anos '30 ao vazio da actual crise ocidental e balizando, com essa associação, o referencial da narrativa e o comportamento dos seus intervenientes. Extensível à quase totalidade dos personagens, o retrato desirmanado destes "filhos dos seventies" é credível e próximo do pontualmente ilustrado em "Mammuth" (2010), ou no mais explícito "Shame" (2011). A fundamentação desta desilusão global, ressaca da primeira década do século XXI, é aqui alimentada por uma imensa nostalgia, patente nas cuidadas sequências iníciais e finais do filme, minimalistas na sua execução, mas plenas em sentimento.
Exige-se a Anders (Anders Danielsen Lie) e à sua geração uma ingrata função catalítica anti-crise, difícil de aceitar para quem possui um histórico comportamental de debilidade e vício, ou para quem se vê, simplesmente, desprovido de perspectivas ou de poder de reacção. "Oslo, 31 de Agosto" é um requiem luminoso em torno do vício, do abandono e da rejeição a que Anders se sujeita. A fragilidade da vida, o desgaste dos elos (familiares, de amizade, afectivos) e o impacto do malogro são alvos de Joachim Trier, autor de um documento adulto e objetivo, devidamente elogiado nos festivais de Cannes, Sundance e Toronto.


Actor talismã do início de carreira de Trier, Anders Danielsen Lie volta a preconizar um bom desempenho, não só pela meritória permeabilidade à inquietação, à derrota e ao cepticismo, como também pelo personagem a que deu vida em 2006, com o qual é agora relacionável, numa realidade decadente. Os também noruegueses Kjaersti Odden Skjeldal, Ingrid Olava e Hans Olav Brenner ajudam a materializar um fim de festa em tons de negro. A ver obrigatoriamente enquanto permanecer em cartaz, no Cinema Medeia King em Lisboa.

Classificação - 4 Estrelas em 5

Enviar um comentário

0 Comentários

//]]>