Crítica - Seeking a Friend for the End of the World (2012)

 
Realizado por Lorene Scafaria
Com Steve Carell, Keira Knightley, Adam Brody, Martin Sheen

O que poderia acontecer se recebêssemos a notícia de que o fim do mundo iria ocorrer dentro de três semanas? De que forma reagiria o ser humano ao tomar conhecimento da data do seu extermínio? Muitos filmes ao longo dos tempos abordaram esta temática, e nem todos de forma minimamente credível. Geralmente, a história é sempre a mesma: os Estados Unidos da América reúnem um grupo de mentes brilhantes e valentões musculados e acabam por salvar o mundo inteiro mesmo à última da hora, com toda a gente a bater-lhes palmas num final lamechas e tremendamente enviesado. Mas este “Seeking a Friend for the End of the World” opta por uma abordagem totalmente distinta, pois a fita começa precisamente com o anúncio de que a NASA acabou de deitar por terra a derradeira tentativa de salvar o mundo, estando este condenado a desaparecer do mapa num espaço de três semanas. Sabemos então desde logo que esta não vai ser uma narrativa vulgar. E ainda bem que assim é, pois dessa forma podemos encará-la com outros olhos e usufruir de hora e meia de comédia satírica doseada em quantidades ideais.

   

Ao tomar conhecimento da inevitabilidade do seu extermínio, a humanidade perde as estribeiras e dedica-se à loucura voluntária. A mulher de Dodge (Steve Carell) ganha finalmente coragem para abandonar um homem que nunca amou e põe-se a andar sem pronunciar uma única palavra. Os amigos de Dodge tornam-se criaturas imprevisíveis e quase selvagens, optando por dedicar os últimos dias de existência a orgias sem fim e à manifestação de comportamentos pouco responsáveis. E praticamente todo o mundo decide despir-se de preconceitos, mandando as leis da sociedade moderna às urtigas e comportando-se finalmente como os animais que sempre desejaram ser. Mas Dodge tem uma visão diferente das coisas. Ele não quer passar os últimos dias a fumar charros e a ir para a cama com todas as mulheres que lhe aparecem à frente. Principalmente depois de saber que a esposa não o amava e que, na verdade, cometia adultério com um perfeito desconhecido, Dodge quer apenas saber se a sua vida fez algum sentido e se alguma vez significou algo para alguém. Com esse objetivo em mente, embarca então numa viagem de descoberta interior com a até então desconhecida Penny (Keira Knightley), a sua muito jovem vizinha do andar de baixo, que tem também a sua dose de problemas emocionais por resolver. 

 

Feitas as contas, “Seeking a Friend for the End of the World” desabrocha como uma comédia dramática de tom carregadamente irónico, tentando ao mesmo tempo divertir o espectador com uma série de tiradas humorísticas puramente nonsense e criticar os moldes da sociedade atual, seja pela demonstração do lado mais negro da humanidade, seja pelo testemunho da fragilidade das leis morais pelas quais nos regemos. Há aqui um pouco de “About Schmidt” (a comédia dramática de Alexander Payne), na medida em que, tal como a personagem de Jack Nicholson nesse filme de 2002, também Dodge e Penny embarcam numa espécie de travessia emocional que acaba por conferir algum significado às suas existências anteriormente banais e perturbadoramente ocas. Sempre ao sabor de um humor negro e extremamente subtil, Dodge e Penny precisam de passar pelo cabo das tormentas para descobrirem quem realmente são e o que mais valorizam neste mundo de loucos. E essa descoberta é feita com o espectador a seu lado, numa cumplicidade salutar e cada vez menos frequente na cinematografia atual. Steve Carell e Keira Knightley apresentam prestações sólidas e surpreendentes, complementando-se de forma maravilhosa no grande ecrã. E apesar de a sua realização não disfarçar com eficácia alguns momentos de apatia narrativa, Lorene Scafaria conduz a prestação dos atores com grande engenho, tendo ainda a coragem de nos oferecer um final bastante corajoso. “Seeking a Friend for the End of the World” não é um filmaço que vá revolucionar a 7ª Arte, portanto. Mas é uma obra enternecedora e bastante comovente, justificando por inteiro uma ida ao cinema com a cara-metade numa tarde de domingo. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

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