Crítica - To Rome With Love (2012)

Realizado por Woody Allen 
Com Alec Baldwin, Ellen Page, Penélope Cruz, Roberto Benigni 

As breves passagens de Woody Allen por Londres, Barcelona e Paris deram lugar a alguns filmes de grande qualidade como o sólido “Match Point” (2005), o caricato “Vicky Cristina Barcelona” (2008) ou o entusiástico “Midnight in Paris” (2011), mas também originaram alguns filmes menos apelativos como “Scoop” (2006) ou “You Will Meet a Tall Dark Stranger” (2010). A sua visita a Roma também não produziu um filme de grande calibre, mas é possível encontrar em “To Rome With Love” alguns traços clássicos do cineasta como o seu humor leve e satírico mas também o estilo fantasioso e analítico do enredo que, neste caso concreto, segue as peripécias de várias personagens, norte-americanas e italianas, em Roma, a icónica cidade eterna que é mundialmente conhecida pelo seu ambiente romântico e sonhador. Um desses intervenientes é John (Alec Baldwin), um reputado arquiteto americano que se encontra a passar férias nesta bela e milenar cidade, onde viveu durante sua juventude. Ao passear pelo seu antigo bairro, encontra Jack (Jesse Eisenberg), um jovem em quem John se revê quando tinha a mesma idade. Ao acompanhar a paixão que Jack vai ganhando por Monica (Ellen Page), a deslumbrante e sedutora amiga da sua namorada, Sally (Greta Gerwig), John revive um dos episódios românticos mais dolorosos da sua vida. Enquanto isso, Jerry (Woody Allen), um excêntrico diretor musical reformado, voa para Roma com a sua esposa, Phyllis (Judy Davis), para conhecer Michelangelo (Flavio Parenti), o noivo italiano e comunista de Hayley (Alison Pill), a filha de ambos. Jerry fica absolutamente maravilhado quando conhece o pai do noivo, Giancarlo (Fabio Armiliato), agente funerário de profissão, e o ouve cantar árias dignas de La Scala enquanto toma duche. Convencido que um talento prodigioso não pode continuar escondido, Jerry planeia a oportunidade de promover Giancarlo a cantor de ópera, aproveitando assim para relançar a sua própria carreira. Pelo seu lado, Leopoldo Pisanello (Roberto Benigni) é um homem vulgar e extremamente chato, que certa manhã acorda transformado num dos homens mais famosos de Itália, e com muitas questões para as quais não tem resposta. Rapidamente se vê perseguido por paparazzi, que lhe seguem todos os seus movimentos e questionam tudo o que faz. Ao mesmo tempo que Leopoldo começa a habituar-se às seduções da ribalta, acaba gradualmente por perceber qual o preço da fama. Entretanto, Antonio (Alessandro Tiberi) é um recém-chegado a Roma, vindo da província com a esperança de impressionar os seus familiares ricos através da sua nova e adorável esposa Milly (Alessandra Mastronardi) e assim conseguir mais facilmente um emprego na grande cidade. Através de cómicos acasos e mal-entendidos, o casal acaba separado e Antonio vê-se obrigado a apresentar uma estranha prostituta (Penélope Cruz) como sua mulher, sendo Milly cortejada pelo lendário ator de cinema Luca Salta (Antonio Albanese). No final do seu atarefado dia, Antonio e Milly chegam à conclusão que a vida da cidade não é para eles e que a sua relação, apesar de não ser perfeita, é suficiente para os fazer feliz.


Esta nova produção de Allen não se aproxima sequer do nível dos grandes trabalhos do género deste famoso cineasta, mas não deixa de ser uma comédia amena com alguns momentos cómicos absolutamente deliciosos e bem ao estilo do cineasta, sobretudo aqueles que envolvem Roberto Benigni e o seu Leopoldo Pisanello ou o próprio Woody Allen e o seu Jerry. Estas duas personagens são nitidamente as melhores do filme, porque são engraçadas e extravagantes mas sobretudo porque conseguem dar a esta comédia um toque de diversão e exultação fora do normal. As mini-histórias destas duas personagens também são bastante engraçadas e são inconfundivelmente as mais agradáveis do filme, nomeadamente a que envolve o ilustre Benigni e o seu italiano comum que, subitamente e sem nenhum motivo, torna-se numa celebridade nacional e tem por isso que aprender a lidar com o que é esperado dele. A demanda de Jerry (Woody Allen) para transformar um agente funerário num cantor de ópera também está recheada de cenas caricatas e divertidas, que derivam diretamente do clássico humor extrovertido de Woody Allen. Pela negativa tenho que destacar a storyline que envolve os três grandes atores norte-americanos do elenco (Ellen Page, Jesse Eisenberg e Alec Baldwin) que, para além de nunca ter piada, torna-se bastante aborrecida devido à forma inócua como aborda o seu tema central: a ilusão de romance. À história do casal de saloios, Antonio e Milly, também falta alguma excitação e singularidade mas também mais sequências cómicas e atrativas, já que só as primeiras cenas que envolvem Antonio e Anna (Penélope Cruz) é que nos provocam alguns risos graças ao embaraço que as rodeia. Como se pode perceber, “To Rome With Love” tem um argumento oscilante que é capaz de nos oferecer o melhor e o pior num curto espaço de tempo, mas o seu maior problema não são as constantes alternâncias entre os seus elementos de maior e menor valor, já que o que realmente falha no enredo deste filme é a forma excessivamente aérea como são abordados os vários temas das mini-histórias e os dilemas e dificuldades dos seus intervenientes, um problema que não existe ou que não é tão óbvio em outros filmes recentes e semelhantes do cineasta como “Vicky Cristina Barcelona”.


A direção de Woody Allen não tem muitas falhas salientáveis. Tal como em “Midnight in Paris” (2011), Allen faz questão de nos fazer uma visita guiada aos principais pontos turísticos da cidade onde se desenrola a ação do filme, assim sendo, somos brindados com vários planos que nos mostram os grandes atrativos visuais de Roma, muitos dos quais servem como cenário para o desenrolar das aventuras dos vários personagens, que até são astutamente encadeadas por este veterano realizador que assim evita grandes momentos de confusão. O pior elemento técnico de “To Rome With Love” é a sua banda sonora, que não é tão evocativa e mediterrânica como se esperava, muito embora seja compostas por algumas sonoridades italianas clássicas. Quanto ao elenco, tenho que destacar as performances muito positivas de Roberto Benigni, Penelope Cruz e de Woody Allen, cuja enorme singularidade está no centro das sequências mais memoráveis do filme. No lado oposto encontramos os medíocres trabalhos de Alec Baldwin, Ellen Page e Jesse Eisenberg, nomeadamente os destes dois últimos dois jovens e promissores atores que simplesmente não demonstraram o seu real valor. Em suma, "To Rome With Love" é um filme razoável mas está um pouco distante do nível das melhores comédias românticas de Woody Allen, muito por culpa de um elenco maioritariamente mal escolhido e de um enredo com várias falhas estruturais que infelizmente não aproveitou ao máximo a fama e a força romântica que emana de Roma, uma cidade que já serviu de cenário para alguns dos filmes mais românticos e criativos da história da sétima arte. 

 Classificação – 3 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Era sobretudo no argumento, em alguns momentos mal construído e abordado, que pairaram as minhas reticências e críticas maiores, depois de ver o filme. Mas a tua observação à escolha do elenco, nomeadamente do trio Ellen Page-Jesse Eisenberg-Alec Baldwin, parece-me muito certeira, já que é na sua mini-história que a narrativa mais derrapa.

    AS características de Woody Allen estão presentes, sem dúvida; principal o humor. Mas o filme não deixa de estar bastantes furos abaixo dos seus congéneres "europeus".

    Excelente crítica. Votos de um bom trabalho futuro.

    Rúben Serrano

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