Pérolas Indie - O Gebo e a Sombra (2012)

 
Realizado por Manoel de Oliveira 
 Com Michael Lonsdale, Claudia Cardinale, Jeanne Moreau 
 Género - Drama 

Sinopse - Apesar da idade e do cansaço, Gebo persegue a sua atividade de contabilista para sustentar a família. Vive com a mulher, Doroteia, e a nora, Sofia, mas é a ausência do filho, João, que os preocupa. Gebo parece esconder algo em relação a isso, em particular a Doroteia, que vive na espera ansiosa de rever o seu filho. Sofia, do seu lado, espera também o regresso do marido, ao mesmo tempo que o teme. Subitamente João reaparece e tudo muda. 

Crítica – O mestre do cinema nacional ainda está ativo e recomenda-se. O atual estado da cultura nacional não é famoso, mas felizmente ainda temos a sorte e a benesse de ter um brilhante cineasta como Manoel de Oliveira no ativo, aliás o ganho não é só nosso mas também de toda a indústria cinematográfica, nomeadamente da vertente europeia que não se cansa de elogiar este nosso tesouro nacional. Este seu novo trabalho, “O Gebo e a Sombra”, não é tão fascinante como os seus maiores clássicos, mas é mesmo assim um filme interessantíssimo e maravilhosamente filmado que é, muito provavelmente, o melhor filme que este icónico cineasta fez nos últimos dez anos. O seu sublime argumento é baseado na homónima peça de teatro de Raul Brandão e explora, com uma enorme qualidade e com uma surpreendente proximidade aos tempos atuais, as dicotomias entre a pobreza e a riqueza mas também entre a corrupção e a integridade, que se manifestam na relação entre um pai honrado mas pobre e um filho corrupto que quer enriquecer o mais rapidamente possível e deixar assim a pobreza para trás. Fiel ao seu estilo, Manoel de Oliveira não explora esta história com grande objetividade, mas não se pode dizer que “O Gebo e a Sombra” seja um filme difícil de acompanhar ou perceber, aliás este acaba mesmo por ser um dos filmes mais simples e compreensíveis do cineasta, que nos brinda ainda com uma direção simplesmente maravilhosa que retrata na perfeição a tensão e os conflitos internos que afetam os dois intervenientes centrais e os seus familiares. O ritmo de “O Gebo e a Sombra” é um bocado lento e o seu estilo técnico é decididamente clássico, mas outra coisa não seria de esperar de um filme deste cineasta que falhou apenas em dar um dos papéis principais a Ricardo Trepa que, apesar de não ser um mau ator, não tem o talento ou a força dramática necessária para coprotagonizar este drama familiar. Já se sabe que Manoel de Oliveira não escolheu Ricardo Trepa por causa do seu talento mas sim por causa da sua relação familiar, no entanto, não se pode dizer que tenha sido uma escolha feliz. Já nos filmes anteriores do cineasta, Trepa destaca-se como um dos elementos mais fracos do coletivo. O mesmo não pode ser dito sobre o outro protagonista, Michael Lonsdale, que tem uma performance fantástica e merecedora de meritórios elogios. Claudia Cardinale e Leonor Silveira também estão sublimes como Doroteia e Sofia. Em suma, “O Gebo e a Sombra” é mais um grande filme de um realizador que está habituado a fazer grandes filmes. É uma pérola indie portuguesa com potencial para maravilhar os portugueses e o resto do mundo. 

 Classificação – 4 Estrelas em 5

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