Crítica - The Impossible (2012)

Realizado por Juan Antonio Bayona e Sergio G. Sánchez
Com Ewan McGregor, Naomi Watts, Tom Holland

A 26 de Dezembro de 2004, um forte terramoto e um intenso tsunami devastaram, em minutos e sem aviso, o sudoeste asiático. A notícia desta catástrofe abalou o mundo. Os relatórios preliminares eram escassos e incertos, mas davam conta de um elevado número de feridos e vítimas mortais de várias nacionalidades, já que as regiões afetadas estavam repletas de turistas que aproveitaram as festividades natalícias para gozar umas merecidas férias junto à praia. As horas que se seguiram a esta tragédia foram portanto pautadas por muita angústia e apreensão devido à persistente falta de informações concretas, mas tudo se tornou mais claro e fatídico quando a imprensa começou a divulgar pequenos vídeos caseiros que conseguiram captar a verdadeira magnitude desta tragédia natural. Essas chocantes imagens ainda hoje são recordadas com temor e permitem explicar como é que tantos milhares de pessoas perderam a sua vida às custas de uma onda gigante que, feitas as contas, provocou mais de duzentas mil mortes. A força dramática desta penosa tragédia é agora retratada por esta magnetizante e apropriadamente intitulada produção espanhola.


Baseado na inacreditável mas verídica história de sobrevivência da Família Álvarez-Belón, “The Impossible” transporta-nos até ao epicentro de uma das piores catástrofes naturais da nossa história. O filme põem em evidência o drama humano que se verificou na época, um pouco por todas as regiões do sudoeste asiático, ao acompanhar de perto a luta pela sobrevivência dos cinco membros de uma família britânica que, juntamente com milhões de outras pessoas, foram apanhados de surpresa pela destruição de uma onda gigante que arrasou, em poucos minutos, milhões de vidas e edifícios. É claro que um filme sobre uma catástrofe desta dimensão não é fácil de ver. O seu argumento apela constantemente às nossas emoções, e pode por isso parecer um pouco exagerado, mas a sua forte e constante carga emocional é apenas uma consequência natural do poder melodramático da realidade e da catástrofe. É precisamente por esta razão que se torna difícil ficar indiferente à dimensão humana, familiar e fatalista que é retratada nesta obra, muito embora “The Impossible” tenha um enredo algo limitado em informação factual, no entanto, este é um filme predominantemente melodramático que, apesar de recorrer vezes demais a pequenos atalhos emocionais, cumpre eximiamente o seu objetivo e consegue passar uma imagem poderosa e amplamente fiel do que aconteceu a 26 de Dezembro de 2004. Esta ideia é reforçada pelos relatos de vários sobreviventes do fatídico evento, que afirmaram publicamente que “The Impossible” é um retrato extremamente realista do colossal drama humano que se verificou um pouco por toda a zona afetada, conseguindo também captar a essência de bondade e solidariedade dos inúmeros atos de coragem e compaixão que foram perpetrados por sobreviventes e habitantes locais durante a tragédia. São as breves representações destes atos que conferem um lado mais ligeiro, esperançoso e até agradável a esta obra, aliviando assim o carregado ambiente que rodeia as consequências do tsunami e a jornada familiar que Maria (Naomi Watts) e Henry (Ewan McGregor) promovem para sobreviver e unir novamente a sua família. É esta jornada que dá corpo ao argumento, mas o que realmente nos emociona é o que rodeia este seu drama familiar que, já agora, tem uma previsível mas competente conclusão que ilustra o lado mais "feliz" e sortudo desta mega-tragédia.


As sufocantes sequências que retratam a chegada do tsunami à costa e o rasto de devastação que este provocou em poucos minutos são, claramente, um dos maiores atrativos de “The Impossible”. Estas sequências criadas por Juan Antonio Bayona e Sergio G. Sánchez são magistrais, porque conseguem mostrar na perfeição o sofrimento e o terror que rodeou este desastre natural. A força das ondas e a aflição das vítimas é palpável e explícita em todos os planos, sendo de destacar a cena que mostra a forma violenta como Maria (Naomi Watts) foi apanhada pela enxurrada de água negra. Em 2010, Clint Eastwood fez algo semelhante com a incrível sequência introdutória de “Hereafter”, mas estas cenas de “The Impossible” também são excelente e não lhe ficam nada atrás. Ao longo do filme aparecem outros momentos emocionalmente impactantes, mas não tão poderosos e visualmente expectantes como estas cenas aquáticas. A fotografia de Óscar Faura também é muito interessante, mas já não posso dizer o mesmo da banda sonora da autoria de Fernando Velázquez, que nunca parece conseguir acompanhar a força emotiva do argumento. As performances de Ewan McGregor, Naomi Watts e Tom Holland também são de louvar, mais até a do jovem Holland que confere à sua personagem o toque certo de persistência e compaixão. Naomi Watts também está muito bem, mas confesso que considero a sua nomeação ao Óscar de Melhor Atriz um pouco exagerada, até porque esta atriz já teve melhores performances que nunca receberam este nível de consagração. Em Espanha, “The Impossible” foi um sucesso de bilheteiras. O mesmo deverá acontecer em Portugal. Este é um filme forte e melodramático que merece o seu título, porque todos os eventos e dramas verídicos que nos mostra parecem derivar da impossibilidade e da imaginação.

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

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