Crítica - The Paperboy (2012)

Realizado por Lee Daniels
Com Zac Efron, Nicole Kidman, Matthew McConaughey

O sublime melodrama “Precious” (2009) deu a conhecer ao mundo o talentoso cineasta norte-americano Lee Daniels que, três anos após ter criado o seu grande êxito até à data, pode ter dado um pequeno passo atrás na sua promissora carreira com este mediano e nada excitante “The Paperboy”, cujo único expoente máximo pertence à estrondosa performance de Nicole Kidman como a voluptuosa e extravagante Charlotte Bless, uma das personagens mais poderosas do ano. A história de “The Paperboy” é baseada no homónimo livro de Pete Dexter e é protagonizada por Ward Jansen (Matthew McConaughey), um conceituado jornalista que regressa à sua pequena cidade sulista para investigar um caso para o seu jornal. Esta sua grande investigação jornalística começou quando Charlotte Bless (Nicole Kidman), uma enigmática solitária que tem por hábito corresponder-se com prisioneiros no corredor da morte, conseguiu-o convencer que Hillary Van Wetter (John Cusack), um rude caçador de crocodilos, foi injustamente condenado por homicídio. À medida que a investigação se desenrola, torna-se claro que Ward e os seus assistentes, Jack Jansen e Yardley Acheman (Zac Efron e David Oyelowo), estão a ser conduzidos numa viagem plena de traições. A única coisa que se mantém constante é aquela bela e estranha mulher que se apaixona por assassinos e cuja paixão os poderá condenar a todos.


É difícil de perceber como é que o competente Lee Daniels conseguiu transformar o consagrado livro de Pete Dexter num thriller desastroso que vale apenas pela enorme entrega de Nicole Kidman à sua espetacular personagem. É precisamente a sua magnífica Charlotte Bless que torna um pouco mais tolerável a cansativa experiência cinematográfica que deriva deste “The Paperboy”, já que é por causa desta magnética e magistral personagem que algumas das suas sequências mais picantes se tornam em empolgantes momentos memoráveis que nos fazem desejar que a sua trama se focasse um pouco mais nela e no seu cativante estilo white trash. Para além da brilhante Charlotte Bless e da fantástica Nicole Kidman, “The Paperboy” não nos oferece mais nenhum motivo de interesse. O principal enfoque do seu mediano argumento reside nos tumultuosos eventos e nos confusos desenvolvimentos que pautam uma complexa e potencialmente engenhosa intriga que, infelizmente, é completamente estragada pela forma indistinta e difusa como é desenvolvida, algo que retira grande parte da eficácia pretendida aos vários contratempos, reviravoltas e surpresas que a pautam e que tentam incutir, sem grande sucesso, um ambiente de suspense e surpresa a um filme que deveria ter aproveitado melhor o envolvente jogo de traições e artifícios que é jogado pelos cinco protagonistas ao longo da trama que, apesar de tudo, contempla uma conclusão deliciosamente justa e lúgubre. A clara ausência de clarividência e brio intelectual deste filme só pode ser imputada a Lee Daniels (Guionista/ Realizador), um homem sem dúvida talentoso que, desta vez, não aproveitou ao máximo a aplaudida matéria-prima que tinha à sua disposição para criar uma adaptação minimamente empolgante e merecedora da nossa atenção. Infelizmente, Lee Daniels também falhou em outras áreas do filme. O seu trabalho de realização denota algumas falhas importantes dentro da vertente técnica, mas também aqui este cineasta tomou algumas decisões dúbias a nível criativo que se traduziram na pobre qualidade global desta obra, falo claro está da forma vulgar e até precipitada com que decidiu retratar a vasta maioria das cenas mais intensas e eróticas do filme, que desta forma perderam grande parte do seu valor e da sua influência no ambiente da trama. As escolhas de Daniels em relação ao elenco também levantam algumas questões, porque só Nicole Kidman é que parece estar à altura do papel que representa, já que todos os outros atores parecem deslocados das suas respetivas personagem e um pouco distantes dos seus melhores dias. Concluído, “The Paperboy” podia ter sido um dos grandes thrillers do ano mas acaba apenas por ser mais um filme mediano que felizmente tem uma soberba personagem feminina à mistura, algo que é manifestamente insuficiente para fazer face às elevadas expetativas que foram goradas por esta infeliz aposta cinematográfica de Lee Daniels, que agora está obrigado a redimir-se perante o público com os seus futuros projetos. 

 Classificação – 2 Estrelas em 5

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