Crítica - Hansel & Gretel: Witch Hunters (2013)

Realizado por Tommy Wirkola 
Com Jeremy Renner, Gemma Arterton, Famke Janssen 

O que dizer de um filme que cai em todos os clichés possíveis e imaginários, que possui uma narrativa menos convincente que um rato a fazer de urso polar no carnaval do Rio de Janeiro, e que parece ter sido engendrado por uma criança sem qualquer tipo de maturidade? Apenas isto: que fica desde já na lista dos piores filmes de 2013. Verdade seja dita, não estávamos à espera de grande coisa. Mas também não esperávamos um resultado final tão desastroso quanto este. “Hansel & Gretel: Witch Hunters” é um desastre rodoviário em formato de filme, afirmando-se como um produto para esquecer o mais rapidamente possível. Bem sabemos que o seu objetivo é entreter e não propriamente concorrer aos Óscares do próximo ano. Mas o problema é que este filme do realizador norueguês Tommy Wirkola é tão mau que nem sequer entretém, limitando-se a atirar poeira para os olhos dos espectadores até ao forçado e pouco inspirado ato final. De facto, está na moda pegar em personagens reais ou ficcionais e transformá-las em caçadoras de um monstro qualquer. Depois de colocarem Abraham Lincoln a caçar vampiros, lembraram-se agora de pôr os irmãos Hansel e Gretel a despachar bruxas com armas de fogo futuristas. Esperemos que esta moda não pegue em demasia, senão qualquer dia ainda temos a Cinderela a correr atrás do monstro de Loch Ness. E, de preferência, com um fato de cabedal bem justinho, um decote escandaloso e um sabre de luz nas delicadas mãos de princesa. Cremos que seria um sucesso de bilheteira, mas todos nós que realmente amamos o cinema morreríamos um pouquinho por dentro…

Depois de escaparem às garras de uma bruxa malvada nos seus anos de meninice, Hansel (Jeremy Renner) e Gretel (Gemma Arterton) decidem tornar-se caçadores de bruxas um pouco por todo o mundo, como forma de se vingarem dos tormentos pelos quais a velha feiticeira os fez passar. Órfãos e pouco dados a pieguices, ambos se tornam bravos guerreiros, fazendo as delícias do povo sofredor e ganhando a vida a troco de sangue malévolo. Numa missão como tantas outras, porém, os irmãos dão de caras com Muriel (Famke Janssen), uma grande feiticeira negra que pretende atingir uma espécie de imortalidade e que lhes dá água pela barba. Face ao seu maior desafio até à data, os valorosos caçadores veem-se obrigados a jogar todos os seus trunfos, pois o destino de toda a humanidade está em jogo. E como se esta terrível conjuntura de eventos não bastasse para lhes deixar os nervos em franja, as memórias de um passado distante atormentam-lhes os pensamentos e eles rapidamente se apercebem de que nem tudo é o que parece… 

 

Depois de várias semanas a ver filmes do calibre de “Lincoln”, “Django Unchained”, “Zero Dark Thirty” e outros que tais, levar de repente com um “Hansel & Gretel: Witch Hunters” é uma experiência deveras traumática. Quase como um rude despertar para a realidade, em que somos lembrados de que nem tudo o que sai de Hollywood é extraordinário. Não sabemos o que terá passado pela cabeça de Jeremy Renner e Gemma Arterton (especialmente Renner, um ator duplamente nomeado para os Óscares) para aceitarem entrar numa produção desta estirpe. Porventura, desejavam divertir-se um pouco. Pois convenhamos: representar este tipo de papéis deve dar um gozo tremendo. Contudo, se quiserem manter as suas carreiras a bom nível, aconselhamo-los a manterem-se afastados deste tipo de projetos nos próximos anos. Pois são exatamente este tipo de aventuras fracassadas que muitas vezes dão cabo de uma carreira sólida e bem-sucedida (que o diga Ben Affleck, que ainda hoje anda a pagar as faturas de “Pearl Harbor” e das comédias românticas que se lhe sucederam). O design de produção e a conceção das criaturas demoníacas são os únicos fatores minimamente positivos desta obra miserável. A Muriel de Famke Janssen consegue ser arrepiante quando quer e alguns dos cenários medievais fazem-nos crer que estamos, de facto, numa aldeia fantástica dos clássicos contos medievais. Além disto, o gore e o sangue a rodos são muito bem-vindos, dando a entender que Wirkola se está pouco a marimbar com a censura dos comités de classificação etária dos filmes. Todavia, seria bom que Wirkola estivesse também a marimbar-se para as fórmulas pré-concebidas dos grandes estúdios, pois são elas que ultimamente dão cabo desta obra, transformando-a num imenso cliché que não espanta nada nem ninguém. Em nenhum 1ponto da película “Hansel & Gretel: Witch Hunters” consegue ser surpreendente. Bem pelo contrário, já que é mais previsível que um cão a cheirar uma boca-de-incêndio. As relações entre as diversas personagens não convencem, o realizador dá tiros nos próprios pés ao querer desesperadamente transformar Hansel e Gretel em dois sex-symbols todos fixes, e há toda uma aura de convencionalismo barato que nos faz bocejar de puro aborrecimento. Em suma, “Hansel & Gretel: Witch Hunters” é um fiasco a todos os níveis, não sendo tão cool como pensa que é e não tendo tanta piada como julga que tem. É mais um tiro ao lado do alvo, e assim se continua a destruir um género cinematográfico que tem muito para oferecer. 

 Classificação – 1 Estrela em 5

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