Crítica - Mama (2013)

Realizado por Andrés Muschietti 
Com Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Megan Charpentier 

 O grande vencedor da 33ª edição do Fantasporto tem sido criticado por possuir demasiados clichés na sua narrativa e pela realização básica e sem chama de Andrés Muschietti, o novo protegido de Guillermo del Toro. Assim sendo, pode dizer-se que os prémios atribuídos este ano pelo Fantas não foram propriamente do agrado de todos quantos estiveram presentes no festival, formando-se um certo desconforto para com o filme em questão. Porém, “Mama” não é tão mau quanto o têm pintado, o que não quer necessariamente dizer que seja uma obra-prima. É, isso sim, um dos filmes de terror mais competentes dos últimos anos e, sem sombra de dúvida, o filme que melhor capturou o espírito ou a essência do Fantasporto, razão pela qual saiu de lá com três prémios na algibeira. Não é uma obra que nos tire o sono, nem tão-pouco ficará para a História da 7ª Arte como um dos expoentes máximos do cinema fantástico. Mas é uma obra bastante competente e arrepiante quanto baste para deixar a audiência de cabelos em pé em dois ou três momentos muito bem engendrados por Muschietti. Sim, a narrativa leva-nos a visitar territórios já explorados em obras anteriores. Sim, o argumento possui alguns defeitos que retiram credibilidade aos eventos retratados, levando-nos a torcer um pouco o nariz. No entanto, para contrabalançar estes aspetos mais negativos, o fantasma que dá nome ao filme prega-nos uns sustos bem valentes, Jessica Chastain luta pela custódia das pequenas com a força de espírito que seria de esperar e o próprio Muschietti tira da cartola duas ou três sequências de grande beleza e forte emotividade. Aspetos que fazem de “Mama” uma experiência cinematográfica divertida e minimamente assustadora.

 

O enredo começa por focar-se em duas meninas que são levadas pelo pai aflito para uma cabana no meio da floresta mais próxima. A mãe das meninas morreu poucas horas antes, presumivelmente assassinada pelo próprio marido, e este último pretende tirar a vida às pequenas antes de ele mesmo se suicidar com um tiro na cabeça. A pistola é apontada à nuca das miúdas e o inevitável parece estar prestes a acontecer. Mas uma entidade assustadora ataca o homem no momento da verdade, fazendo-o desaparecer sem deixar rasto e deixando as raparigas entregues ao seu próprio destino. Alguns anos mais tarde, Lucas (Nikolaj Coster-Waldau) – o tio das meninas – recebe a notícia de que as sobrinhas foram finalmente encontradas e decide assumir a responsabilidade de as educar com a ajuda de Annabel (Jessica Chastain), a sua namorada irreverente. Apesar de relutante por não se sentir preparada para assumir tamanha responsabilidade, Annabel opta por conferir todo o seu apoio ao namorado, dando uma hipótese às meninas atormentadas e desfasadas do mundo civilizado. Porém, a tarefa de construir uma relação de amizade e confiança com as pequenas depressa se transforma numa tarefa hercúlea, pois as miúdas parecem ter trazido da floresta uma entidade sobrenatural que acompanha à lupa todos os seus movimentos…

   

Já se deixou bem claro que “Mama” está longe de ser o filme mais assustador de todos os tempos, ou aquele que irá mudar para sempre a face do cinema fantástico. Há dois ou três momentos em que o espectador passa de facto por calafrios, mas nada mais que isso. O fantasma protagonizado por Javier Botet (o mesmo ator que encarnou a menina Medeiros nos filmes da saga “[REC]”) é arrepiante e deixa-nos os nervos em franja nos momentos exatos, mas os seus objetivos são tão nobres que rapidamente deixamos de o ver como uma criatura imensamente malévola. «SPOILER» Afinal, é o amor maternal que está aqui em causa, e não qualquer desejo de vingança ou psicopatia reprovável. Os seus intentos cheiram também a déjà-vu, pois já perdemos a conta ao número de vezes que vimos a causa de um poltergeist associar-se à procura desenfreada por um ente-querido falecido. «FIM DE SPOILER» Esta é a maior falha do argumento, pois fá-lo tombar no lugar-comum. Jessica Chastain é um dos pontos fortes da película, pois interpreta a sua personagem com a garra do costume e praticamente carrega o filme às costas conjuntamente com o fantasma. Porém, a sua mudança de atitude relativamente às crianças surge com demasiada rapidez e sem que nada de verdadeiramente relevante aconteça para justificar essa alteração de sentimentos, ainda que uma das cenas mais belas do filme pertença a um momento de interação entre a sua personagem e uma das meninas. Estes são alguns dos aspetos que podem explicar a razão pela qual “Mama” tem sido encarado com tanto rancor por parte da crítica. Mas, aparte estes aspetos, não podemos esquecer-nos de que Muschietti controla o ritmo da narrativa como se de um mestre se tratasse, jamais deixando-a tombar num marasmo repugnante ou num aborrecimento sem fim. Graças ao génio criativo de Muschietti (que del Toro bem soube reconhecer), “Mama” desabrocha como uma flor até atingir um clímax repleto de emotividade, humanizando a entidade sobrenatural e emancipando a verdadeira natureza da protagonista humana. No final de contas, pode dizer-se que “Mama” é um conto sobrenatural sobre a natureza humana e o poder do amor maternal. Temas que não vemos muitas vezes associados ao fantástico e que fazem desta obra um must-see para os amantes do género. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

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4 Comentários

  1. Excelente resenha, não poderia concordar mais! Disseste tudo. Gostei imenso do filme, não obstante as suas falhas a nível de argumento. Mas é uma óptima escolha, e consegue causar uns violentos sobressaltos ;)

    Sarah
    http://depoisdocinema.blogspot.pt

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  2. Sim, não é um filme perfeito, mas cumpre com aquilo que prometia e é bastante divertido. Para além disso, tem duas ou três sequências de encher o olho, sobretudo a nível visual.

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  3. Filme sem enredo, sem texto, sem história, sem emoção, sem efeito especial, mal dirigido, mal iluminado, sem pé sem cabeça, sem corpo, sem alma. Enfim; perda de tempo ver uma produção desta. Não gastem seu dinheiro suado indo ao cinema para assistir isto.

    Paulo Monteiro

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  4. Nossa, que braveza tio anônimo!
    Tah, concordemos que não é o melhor filme de terror já visto, mais dos últimos que foram feitos este até que é legal. Embora eu tenha ficado sem entender a história da Mama , e as falhas no meio caminho.. como o tio sonhar com o pai (que ia matá-las) pedindo pra ir a cabana salvá-las, o filme me deu grandes sustos. Recomendo pra quem gosta de coisas do tipo. Mais só pra expor minha indignação: Lendo os comentários de outra página de críticas a filmes, vi um cidadão comparar a "grandeza assustadora" de Mama com a porcaria do filme "O segredo da Cabana". Velho, por favor!! Aquilo é o extremo da loucura, misturado com um pouco de comédia e exagerados e grotescos efeitos especiais... Affff...

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