Crítica - The Tall Man (2012)

Realizado por Pascal Laugier
Com Jessica Biel, Stephen McHattie, Samantha Ferris

De certa forma, “The Tall Man” é uma versão soft (muito soft) e pseudofantástica de “Gone Baby Gone”, a primeira experiência cinematográfica de Ben Affleck enquanto realizador. Não que os dois filmes referidos partilhem um código genético muito similar, nada disso, até porque estaria a cometer sacrilégio se me atrevesse a insinuar que “The Tall Man” joga no mesmo campeonato de “Gone Baby Gone”. Todavia, a mensagem que ambos os filmes transmitem à audiência é sensivelmente a mesma, lançando questões em tudo semelhantes e despoletando o mesmo tipo de controvérsias. E mais não digo para não estragar a experiência a quem não esteve no Fantasporto ou no MOTELx e ainda não viu a mais recente obra de Pascal Laugier. Verdade seja dita, “The Tall Man” é um filme tremendamente básico e parco em criatividade. Laugier estarreceu audiências com o bem-sucedido “Martyrs”, mas sucumbiu ao modo de contar histórias pré-formatado que infelizmente reina em Hollywood. Nada tem o condão de espantar neste sofrível “The Tall Man”, que se limita a disparar imagens sem chama e desprovidas de sentimento durante uma hora e meia de narrativa enfadonha e pouco credível. Somente os últimos quinze minutos de película despertam o espectador de um sono profundo, através de um twist inesperado e interessante que, ainda assim, não consegue salvar por completo o marasmo que ficou para trás.

   

A narrativa dá-nos a conhecer Julia Denning (Jessica Biel), uma jovem e simpática enfermeira que parece viver em paz numa pequena vila do interior norte-americano após o desaparecimento do seu marido. Poder-se-ia dizer que aquela vila era uma vila como tantas outras do território norte-americano, não fossem os sucessivos desaparecimentos dos habitantes mais jovens da população. Crianças de tenra idade desaparecem num piscar de olhos e sem deixarem o mínimo sinal de alguma vez ali terem estado presentes, o que depressa despoleta a raiva da população indignada. Uns assumem uma posição mais racional e atiram as culpas para um qualquer pedófilo que é preciso identificar o quanto antes. Outros deixam-se levar pelas lendas urbanas e preferem acreditar que o responsável pelos raptos é uma figura mítica que apelidaram simplesmente de Tall Man (numa alusão clara ao porte alto e corpulento da figura). Julia não mostra grande predisposição para crer em tal lenda do imaginário local, mas o seu mundo dá uma volta de cento e oitenta graus quando ela própria testemunha o rapto de uma criança e decide perseguir o responsável para tirar aquilo a limpo…


“The Tall Man” é-nos servido como um filme de terror, mas de terror não tem absolutamente nada. Será melhor definido como um thriller policial onde nem tudo é o que parece e onde o perigo espreita a cada esquina. Nota-se que Laugier tenta manter o mistério até ao fim, para dessa forma perpetuar o interesse do espectador e seguir à risca as normas de um filme do género policial. Porém, o argumento é tão rebuscado e a performance dos atores é tão mecanizada que o interesse se evapora com uma rapidez inusitada, transformando uma obra com algum potencial num produto pré-fabricado sem grande valor artístico. Muitas das sequências de ação são confusas e desconexas porque a câmara nunca está no sítio certo, e a montagem final da película também não ajuda à festa. Quase todas as personagens são unidimensionais e até a protagonista falha em causar o impacto desejável, não porque Biel esteja mal mas porque a sua personagem é simplesmente fraquinha. Em suma, somente o final minimamente bem conseguido traz alguma chama a uma película moribunda, trazendo à baila as tais questões controversas e conferindo uma certa profundidade dramática aos eventos retratados. Como um todo, “The Tall Man” acaba por não ser um desastre completo. Mas é, inevitavelmente, um dos filmes mais fraquinhos que passou no recente Fantasporto, não devendo permanecer na memória dos espectadores por mais do que uma semana. E, já agora, era escusado colocar a menina a fazer aquelas questões diretamente à audiência na última imagem da película. Por essa altura já todos percebemos a mensagem. Não era necessário enfatizar ainda mais a questão formulada, pois cheira a insegurança por parte do realizador.

 Classificação – 2,5 Estrelas em 5

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