Os Reality Shows em Portugal. Uma História Miserável e Embaraçosa

É já este Domingo (21 de Abril) que estreia em Portugal a nova edição do “Big Brother Famosos”. Esta será a 3ª Edição do “Big Brother Famosos” e a 7ª Edição do “Big Brother” que, como devem saber, revolucionou, para pior, a programação da televisão portuguesa quando a sua 1ª Edição estreou em Setembro de 2000. A premissa do “Big Brother”, tal como a da grande maioria dos produtos do género, é simples e não requer, à partida, um investimento significativo por parte da emissora, já que todo o entretenimento deriva, supostamente, das polémicas peripécias que pautam o quotidiano de um grupo de estranhos, que aceitaram previamente ficar fechados numa pequena vivenda durante vários meses, estando sempre a ser vigiados por câmaras de filmar durante esse período de tempo. É claro que este ambiente claustrofóbico e de constante interação humana dá azo a romances, discussões, rivalidades, amizades e, claro está, momentos explícitos de violência e sexo que, para todos os efeitos, são aqueles que mais chamam a atenção do público, que vive sempre na esperança de ver um bom confronto físico ou um escaldante encontro sexual entre concorrentes. Eu recordo que o nosso país parou em massa quando, na 1º Edição do “Big Brother”, um concorrente masculino agrediu fisicamente com um pontapé uma concorrente feminina. E, já agora, quem é que não se lembra da violenta discussão, verbal e física, que envolveu duas concorrentes no “MasterPlan”, a resposta da SIC ao “Big Brother” da TVI. A estes dois momentos televisivos juntam-se muitos outros, como cenas de nudez ou sexo explicito em direto, polémicas reações homofóbicas ou discriminatórias por parte dos concorrentes, casamentos em direto e, ainda recentemente, revelações de segredos íntimos e até constrangedores em horário nobre. Tudo isto sempre acompanhado, como é óbvio, por uma linguagem altamente imprópria. 
O “Big Brother” apresentou Portugal ao competitivo e altamente parvo mundo dos reality shows que, na altura da estreia nacional deste projeto, já eram um grande sucesso de audiências nos Estados Unidos da América e na Europa. Eu recordo que o “Big Brother Portugal” não é um conceito original português, já que a sua versão nacional é uma adaptação do conceito que foi criado por John de Mol para a televisão holandesa. A grande parte dos reality shows que são exibidos em Portugal são variações de programas estrangeiros, como o francês “Secret Story” (Casa dos Segredos) ou os norte-americanos “Beauty and the Geek” (A Bela e o Mestre), “The Bachelor” (Pedro, O Milionário) ou “The Biggest Loser” (Peso Pesado). O “Big Brother 1” desencadeou, graças ao seu estrondoso sucesso, uma epidemia de sequelas ou programas similares e, como consequência, uma imparável onda de pseudo-celebridades que tentaram, sem grande sucesso, aproveitar a sua participação nesses programas para alcançarem a tão almejada fama e tentarem, pelo meio, ganhar algum dinheiro extra no mundo das presenças em eventos que, pelos vistos, é mais rentável do que parece. Eu não quero aqui discutir o que leva alguém a participar nestes programas, nem quero tentar aprofundar as razões que levam os portugueses a ver programas como estes, mas quero falar um pouco sobre estes programas que, infelizmente, já fazem parte do nosso quotidiano.
O “Big Brother” é, sem dúvida, o Rei dos Reality Show. Este programa catapultou, na altura, a TVI para a liderança das audiências e, acima de tudo, rendeu, segundo consta, uma elevada quantidade monetária em publicidade a esta estação televisiva que, para além deste projeto revolucionário, presenteou os portugueses, nos anos seguintes, com uma série de programas semelhantes como “A Quinta dos Famosos” (Famosos Numa Quinta), “1º Companhia” (Famosos na Tropa), “O Circo das Celebridades” (Famosos no Circo), “A Bela e o Mestre” (Mulheres Bonitas e Homens Pouco Atrativos Juntos Num Concurso), “Pedro, O Milionário” (Um Milionário Falso Tenta Conquistar Um Grupo de Solteiras) e o recente “Secret Story” (Pessoas Com Segredos Fechados Numa Casa). É claro que, para além destes reality shows vulgarmente normais, a TVI aproveitou a “fama” de alguns ex-concorrentes para criar vários programas documentais de “entretenimento” como “O Anel de Marta”, que acompanhou ao pormenor a festa de noivado entre dois ex-concorrente do “Big Brother 1”. A TVI tentou também apostar unicamente na rentabilização da ilusão do sexo, quando trouxe para Portugal o programa brasileiro “Fiel ou Infiel”, que, apesar de ter sido exibido em plena madrugada, conseguiu quebrar todos os limites de decência pública com a sua premissa, claramente ficcionada, onde a fidelidade dos participantes era posta à prova em situações altamente sexuais, no entanto, tenho que admitir que, pelo menos, não apresentou nenhuma cena de sexo explícito ou violência em direto, como o “Big Brother” ou o “Secret Story”.
É claro que a SIC também tentou a sua sorte no competitivo mundo dos reality shows mas, infelizmente ou felizmente, não teve tanto sucesso como a sua maior rival televisiva. O seu reportório de programas deste género inclui, por exemplo, os mal-amados “Bar TV” (Concorrentes Tentam Gerir Um Bar), “Confiança Cega” (O Amor dos Casais é Posto à Prova) e “Acorrentados” (Solteiros Acorrentados Durante Semanas), bem como o relativamente bem-sucedido “MasterPlan” (Dois Concorrentes Cumprem Missões Dadas Por Um Mestre Incógnito), que ainda hoje é um sucesso no YouTube graças, única e exclusivamente, à cena de pancadaria que referi previamente. É claro que a SIC também apostou em programas semelhantes aos projetos documentais/ ficcionais da TVI, mas, em vez de utilizar ex-concorrentes, usou dois famosos cantores nacionais, Ágata e Toy, cujas vidas privadas foram escrutinadas ao pormenor nos programas “O Meu Nome é Agata” e “A Casa do Toy”. Nos últimos anos, a SIC parou de apostar em reality shows deste género, mas apostou, ainda assim, numa parva adaptação nacional do programa americano “The Moment of Truth”, que valeu ao Canal de Carnaxide uma série de queixas e inquéritos na ERC. A RTP1 não se meteu nestas andanças. É claro que também apostou em reality shows musicais (“Operação Triunfo”) ou culinários (“MasterChefs”) como a SIC (“Idolos” ou “Família Superstar”) e a TVI (“Canta para Mim” e “A Tua Cara Não me é Estranha”), mas estes são tudo menos controversos ou verdadeiros atentados à decência, muito embora também promovam, ocasionalmente, situações amplamente desnecessárias como a exibição das audições/demonstrações públicas de concorrentes que, digamos abertamente, não têm nenhum jeito para a coisa. 
Os reality shows são, portanto, uma epidemia incontrolável que não acrescenta nada de positivo ao panorama televisivo português mas, apesar de serem parvos e ridículos, continuam a aparecer como cogumelos nas grelhas televisivas, porque, acima de tudo, geram audiências e, com isso, grandes lucros publicitários para as estações televisivas que agora, mais do que nunca, precisam urgentemente do dinheiro das empresas que querem publicitar os seus produtos durante os longos intervalos comerciais. É verdade que Portugal já teve a sua dose de péssimos reality shows, mas, felizmente, o nosso país ainda continua a ser dos mais contidos neste género de programação. Se o pior que temos que enfrentar é o “Big Brother”, então acho que já nos podemos dar por satisfeitos, porque lá fora existem programas muito piores. Vou falar sobre esses programas internacionais num texto que será colocado online amanhã (Poder Ler AQUI), mas para já quero deixar aqui a minha lista pessoal dos cinco piores reality shows que passaram por Portugal. Esta pequena lista ainda não inclui o previsivelmente terrível “Splash” da SIC, um programa ainda inédito que, apesar de tecnicamente não ser um reality show, também se pode descrever como um projeto parvo, já que não consigo encontrar nenhum entretenimento ou interesse num programa que, semanalmente, irá mostrar um grupo de pessoas conhecidas a atirarem-se para uma piscina. 

1º - Big Brother
Estação Televisiva – TVI/ Ano de Estreia – 2000/ Edições Até ao Momento – 7

Conceito – Um grupo de estranhos, famosos ou não-famosos, aceitam ficar presos numa casa sem qualquer contacto com o mundo. O seu dia-a-dia passa a ser acompanhado, em direto, por toda a população portuguesa, que decide, semanalmente, quem abandona a casa. 

2º - Acorrentados
Estação Televisiva – SIC/ Ano de Estreia – 2001/ Edições Até ao Momento – 6

Conceito – Os concorrentes, todos solteiros, têm que passar uma semana acorrentados uns aos outros durante vinte e quatro horas por dia. O concorrente central escolhe, no final, um dos outros acorrentados. 

3º – Secret Story – A Casa dos Segredos
Estação Televisiva – TVI/ Ano de Estreia – 2010/ Edições Até ao Momento - 3

Conceito - Um grupo de estranhos aceitam ficar presos numa casa sem qualquer contacto com o mundo. O seu dia-a-dia passa a ser acompanhado, em direto, por toda a população portuguesa, que decide, semanalmente, quem abandona a casa. Os concorrentes entram para a casa com um segredo pessoal, que têm proteger, a todo o custo, dos outros participantes. Se o seu segredo for descoberto perdem todo o dinheiro que amealharam até então com as missões dadas pela produção. 

4º - Ilha da Tentação
Estação Televisiva – TVI/ Ano de Estreia – 2004/ Edições Até ao Momento - 1

Conceito – Um casal de namorados com uma relação estável são enviado para uma ilha paradisíaca, onde, posteriormente, são separados e obrigados a conviver com atraentes e desinibidos indivíduos solteiros do sexo oposto, que os vão tentar seduzir. Esta interação vai por à prova a estabilidade da sua relação amorosa com o outro elemento do casal. 

5º - Quinta das Celebridades
Estação Televisiva – TVI/ Ano de Estreia – 2004/ Edições Até ao Momento - 2

Conceito – Um grupo de famosos, que estão habituados ao luxo e a viver nas melhores condições, ficam encarregues de tomar conta de uma quinta onde têm de tratar dos animais e da horta.

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