Crítica - The Reluctant Fundamentalist (2012)

 
Realizado por Mira Nair
Com Kate Hudson, Kiefer Sutherland, Liev Schreiber, Riz Ahmed

São poucos os realizadores que se podem gabar e orgulhar de terem tido a grande oportunidade de exibir, no mesmo ano, o seu novo projeto cinematográfico em dois importantes festivais de cinema. Em 2012, Mira Nair viu o seu “The Reluctant Fundamentalist” ser escolhido como o Filme de Abertura do Festival de Veneza e do Festival de Toronto, dois dos mais respeitados certames cinematográficos da Europa e da América do Norte. É portanto fácil de presumir que um filme que seja alvo deste tipo de honra tenha alguma qualidade mas, por muito estranho que isto possa parecer, esta co-produção indoamericana não conseguiu corresponder às grandes expetativas que derivam, por arrasto, desta gigantesca responsabilidade, muito embora não seja um filme totalmente desprovido de carácter e emoção. Baseado no homónimo livro de Mohsin Hamid, “The Reluctant Fundamentalist” conta-nos a história de Changez Khan (Riz Ahmed), um professor paquistanês que é entrevistado pelo jornalista americano Bobby Lincoln (Liev Schreiber), ao mesmo tempo que violentos protestos estudantis ecoam pelas ruas de uma das maiores cidades paquistanesas. Licenciado pela Universidade de Princeton, Changez vai falando a Lincoln do seu passado brilhante como analista financeiro de Wall Street, do seu mentor Jim Cross (Kiefer Sutherland), da sua bonita e sofisticada namorada Erica (Kate Hudson) e do futuro brilhante que ambos tinham pela frente. Mas com o 11 de Setembro e o ataque ao World Trade Center, Changez vê-se confrontado com um ambiente de perseguição e suspeita, motivado pela sua naturalidade, que o levam a regressar ao seu país e à família de quem adora. O seu carisma e inteligência acabam por o projetar como um líder, tanto aos olhos dos seus devotos estudantes paquistaneses como das desconfiadas entidades americanas. O insuspeito encontro entre Lincoln e Changez rapidamente acaba por revelar o verdadeiro objetivo do jornalista, que acredita que Changez coopera ativamente com um grupo terrorista paquistanês que raptou um professor estrangeiro e que ameaça executá-lo se não receber um avultado resgate. Será que as suspeitas de Lincoln em relação a Changez estão corretas, ou será que Changez é apenas um inocente professor universitário?

   

Ao longo de aproximadamente duas horas, “The Reluctant Fundamentalist” e Mira Nair mergulham-nos num argumento mediano e um bocado entediante que precisava de ser um pouco mais competitivo e empolgante para cumprir aquilo que inicialmente nos parece prometer. As suas primeiras cenas dão-nos a entender que iremos ver um filme ambicioso e intenso que não terá medo de analisar, sem estereótipos ou ideias pré-concebidas, os amplos contrastes culturais que existem entre duas culturas com ideais adversos, no entanto, estes antagonismos e as suas consequências nunca são devidamente exteriorizados ou vincados por um enredo que se perde muitas vez em questões contraproducentes ou diálogos sem a necessária potência dramática ou intelectual. É claro que há algum valor na forma como as questões culturais sociopolíticas do Pós-11 de Setembro são abordadas, mas esperava-se um pouco mais de ambição e destreza dramática desta obra, que também não consegue criar e moldar um protagonista com uma moralidade eficazmente incerta. É por isso que é muito fácil de prever que caminho é que Changez Khan seguirá ao longo do filme, já que são poucos os eventos que conseguem implementar dúvidas concretas na nossa mente ou que nos fazem duvidar da efetivização da conclusão mais previsível. O filme também não promove nenhuma grande ou complexa desconstrução psicológica em relação a esta personagem central, que eventualmente se torna até numa personagem bastante previsível. Seria de esperar que Khan entrasse por caminhos incertos e cheios de conflitos morais, mas isto nunca parece acontecer com a exigência esperada. O mesmo já não acontece com Bobby Lincoln, um jornalista com motivos escondidos que acaba por ter uma personalidade mais sombria e interessante do que a do protagonista. O duelo moral interno que este enfrenta no final é bastante interessante, sendo claramente mais empolgante do que as constantes dúvidas que Khan vai enfrentando em relação à sua cultura ou à sua forçada vida laboral e amorosa. Só posso criticar Mira Nair pelo ritmo brando e enfadonho que conferiu a este desapontante “The Reluctant Fundamentalist”, um thriller que tinha potencial para ser num filme cheio de suspense e intrigas socioculturais, mas que infelizmente não passa de um filme razoável mas exageradamente extenso, cujo ameno argumento acabou por ter a sorte de ser interpretado por um bom elenco internacional. 

Classificação – 3 Estrelas em 5

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